POR CULPA DOS TUGAS SÓ CHOVE ONDE NÃO É PRECISO!

Ruas intransitáveis, casas inundadas e paragens de táxi cheias volta a ser, como é hábito, o cenário poético da cidade de Luanda, sempre que chove. Golfe II, Kilamba Kiaxi, Zango, Rangel e parte baixa da capital foram as zonas mais afectadas.

De acordo com o órgão oficial do MPLA, o Jornal de Angola, no Distrito Urbano do Rangel, concretamente no Bairro Indígena, muitas casas ficaram inundadas. Alguns moradores foram obrigados a recorrer a baldes e bacias para retirar a água das residências e dos quintais. Tudo normal, portanto.

Recorde-se que, no dia 17 de Abril, o Presidente de Angola, João Lourenço, manifestou “consternação devido às perdas humanas e materiais em consequência das inundações”. Não, não se referia ao seu reino. Referia-se à África do Sul, exprimindo até ao seu homólogo sul-africano a solidariedade do povo e do Governo angolano. Fez muito bem em não se abster…

“Com profundo pesar e consternação temos vindo a acompanhar a situação dramática que se abateu sobre a província do Kwazulu-Natal, provocada pelas intensas chuvas e consequentes inundações, que já provocaram cerca de quatro centenas de vítimas mortais, encontrando-se ainda desaparecidas sob os escombros várias dezenas de pessoas”, escreveu João Lourenço numa mensagem dirigida ao seu homólogo, Cyril Ramaphosa.

João Lourenço acrescentou que a elevada perda de vidas humanas, “com o sofrimento que lhe é inerente, e a dimensão das destruições de bens públicos e privados”, constitui uma perda dolorosa para todo o povo sul-africano e manifesta a Cyril Ramaphosa “solidariedade” pelo momento difícil, expressando condolências a todas as famílias enlutadas.

Em Março de 2017 morreram pelo menos 11 pessoas em Luanda em resultado das fortes chuvas que inundaram mais de cinco mil casas, o desabamento de algumas e desalojando perto de 400 famílias. Como se sabe, na versão dos donos do país (o MPLA), a culpa de a chuva não respeitar as ordens superiores é dos estrangeiros, no caso dos portugueses.

As chuvas inundaram ainda duas escolas, sete centros de saúde e uma igreja, sobretudo nos municípios do Cazenga, Cacuaco e Viana. Para tentar minimizar os estragos das chuvas foram realizados trabalhos de sucção das águas, a abertura de valetas.

No entanto, as autoridades alertaram para a iminência do enchimento e transbordo de várias bacias de retenção de águas das chuvas, bem como o alagamento da maior parte de ruas secundárias e terciárias da periferia de Luanda.

Entendamo-nos. Nesta matéria o MPLA não se abstém. Tudo o que de errado se passou e passa em Angola ou é culpa dos portugueses ou dos arruaceiros da UNITA. A independência poderia ter chegado há 500 anos mas só chegou há 47. A culpa foi primeiro dos portugueses e depois da UNITA. Os presidentes de Angola (todos do MPLA) poderiam ser brancos, mas isso não aconteceu. A culpa foi dos portugueses. Angola poderia ser um dos países menos corruptos do mundo, mas não é. A culpa é dos portugueses.

Em tempos recentes, o ex-Presidente da República (que só esteve no poder 38 anos), José Eduardo dos Santos, considerou que a província de Luanda vivia “graves problemas decorrentes da situação complicada herdada do colonialismo, mormente no domínio das infra-estruturas e saneamento básico”.

Sua majestade, então rei do país e depois apenas um marimbondo conluiado com as forças do mal (os tais arruaceiros), intervinha na abertura de uma reunião técnica, dedicada à problemática dos constrangimentos sócio-conjunturais da cidade capital, e que juntou alguns membros do Executivo e responsáveis da província – tal como agora voltou a fazer João Lourenço – em busca de fórmulas mais consentâneas para a implementação dos projectos decorrentes de programas aprovados há alguns anos.

Segundo o então Presidente, os 30 anos de guerra que o país viveu (por culpa dos portugueses e da UNITA, é claro) não permitiram a mobilização de recursos humanos e financeiros para satisfazer todas as expectativas das populações.

Para o MPLA, os desafios são enormes, as despesas cresceram muito e, em certos casos, “superam a nossa capacidade”, daí a necessidade de recorrer-se à sabedoria no domínio da gestão parcimoniosa.

José Eduardo dos Santos disse também ser preciso trabalhar com base em prioridades “atacando os problemas essenciais”, que, por sua vez, permitam a resolução de outros, decorrentes dos eixos fundamentais. João Lourenço subscreve.

Antes dessa reunião, no Marco Histórico “4 de Fevereiro”, no município do Cazenga, com titulares das pastas da Construção, Transportes, Planeamento e Desenvolvimento Territorial, Urbanismo e Habitação, os secretários de Estado das Águas e do Tesouro, entre outros responsáveis, o “querido líder” cumpriu uma jornada que o levou às obras de intervenção na zona conhecida como da “Lagoa de São Pedro”, na comuna do Hoji-Ya-Henda, assim como a algumas vias rodoviárias, que supostamente iriam conferir melhores condições de vida às populações.

Foi então que, com a impressão digital de um dos seus sipaios (no caso até é filho incerto de pais portugueses) que dirigia o Pravda do regime, Eduardo dos Santos mandou dizer que “no ano de 2015, de grande significado para os angolanos, a empresa lusa Mota-Engil fora contratada para reabilitar todos os passeios e ruas da cidade de Luanda”.

Até aqui tudo normal. Mas seguiu-se a reprodução do argumentário simiesco do sipaio (José Ribeiro, então director do Jornal de Angola), com o aval do Presidente: “Durante as obras, a construtora vedou com alcatrão toda a rede de esgotos, sarjetas e valas de drenagem das ruas. Quando nesse ano as fortes chuvas chegaram, as ruas ficaram transformadas em rios e no sítio dos esgotos abriram-se crateras que ainda hoje se vêem.”

E depois não queriam que a rapaziada critique Portugal, mesmo que tenha de se descalçar para contar até 12. Então a Mota-Engil “vedou com alcatrão toda a rede de esgotos, sarjetas e valas de drenagem das ruas”? Isso é coisa que se faça? Nem os “arruaceiros” da UNITA se lembrariam de tal. A ideia seria dar razão ao MPLA quando este fala da “situação complicada herdada do colonialismo, mormente no domínio das infra-estruturas e saneamento básico”. Mas, convenhamos, poderiam não ter vedado “com alcatrão toda a rede de esgotos, sarjetas e valas de drenagem das ruas”.

“Com a acumulação de charcos e lixo, as condições de saúde na capital angolana degradaram-se. A cidade foi assolada por um surto de febre-amarela. A crise só foi ultrapassada com a substituição do governo provincial”, escreveu o Pravda. E escreveu muito bem, ou não estivesse a reproduzir o recado de um líder que até conseguiu pôr o Rio Cuanza a desaguar na foz e não na nascente…

Com todo este cenário, é bom de ver que Portugal para se redimir de todos os seus históricos erros em relação a Angola, deve rapidamente pedir desculpas às terças, quintas e sábados e pedir perdão às segundas, quartas e sextas. Aos domingos devem ser os “arruaceiros” da UNITA. A bem, é claro, da Nação. Da nação do MPLA, entenda-se.

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